O Curso de Extensão sobre as “Línguas e Literaturas Paraguaias”, que aqui disponibilizamos, faz parte do Projeto “Conhecer e Reconhecer-se latino-americano”, idealizado pela professora Dra. Romilda Mochiuti e promovido pelo Consulado Geral do Paraguai de São Paulo, pela PROEEC e DERI da Unicamp.
Esta iniciativa nasce da inquietação projetada pela obra de Edmundo O’Gorman que, em A Invenção da América, afirma que, sem contradição lógica, a América é, e ao mesmo tempo, não é a Europa, “condição dramática de sua existência e chave de seu destino”. Esta existência contraditória nos levou a partir de uma análise histórica a propor que o Brasil é, e ao mesmo tempo, não é América Latina, i.e., nos impõe uma reflexão sobre o distanciamento político-social e a aproximação espacial entre o Brasil e os demais países da América Latina de colonização espanhola.
Se por um lado, algumas constatações sobre o passado histórico bélico separatista do Brasil e demais países da América Latina são irrefutáveis; por outro, as metrópoles ibéricas desenharam limites não apenas geográficos, mas também linguístico–culturais e políticos que dividiram suas colônias e criaram interesses econômicos e sociais específicos para cada região, que lhes conferem certo distanciamento competitivo.
Nesse contexto, algumas questões se sobrepõem às semelhanças linguísticas e culturais, ao ponto de não solucionarem o impasse e não promoverem a necessidade de união – tão proclamada por líderes independentistas, como Simón Bolívar – entre todos os países da América do Sul.
A explicação mais simples surge, invariavelmente, na afirmação de que a cultura brasileira está profundamente marcada, primeiramente, por uma tradição eurocêntrica e, logo, norte-americana, responsáveis pelo fato de o país estar de olhos postos para o mar e de costas para o continente ao qual pertence tanto geográfica e histórica quanto linguística e culturalmente. Ainda que esta indicação seja indiscutível, não deixa de ser muito simplista e genérica.
Historicamente, as relações do Brasil com seus vizinhos sul-americanos e, por extensão, latino-americanos nunca foram exatamente harmoniosas. Basta que nos lembremos de dois episódios, como o da Guerra do Paraguai e o da Guerra do Acre, para recordarmos a dimensão controversa dessas relações.
No panorama político, do durante e pós-pandemia do novo coronavírus, essa situação ganhou novos contornos. A falta de maior articulação por parte do Brasil – no exercício de uma liderança conquistada na década anterior – fez com que a América do Sul tivesse um peso relativamente pequeno na ordem política mundial. Na conjuntura desse momento, parece que, ao invés de ser o Brasil a estar de costas para a América Latina, é a América do Sul que está de costas para o Brasil.
Este novo cenário ficou mais evidente quando países sul-americanos começaram a fechar suas fronteiras para a entrada de brasileiros, a fim de evitar o contato – e possível contágio – com prováveis portadores e transmissores do vírus, antes mesmo que o governo brasileiro promovesse qualquer política de prevenção interna ou de fronteira.
No âmbito do intercâmbio educativo e cultural, entretanto, apesar de ter havido durante a primeira década deste século um esforço bilateral – no bojo das relações comerciais proporcionadas pelos países membros do MERCOSUL, no Brasil especificamente com a implementação da oferta do ensino de língua espanhola no currículo escolar de formação básica, i.e., Fundamental II e Ensino Médio, promovido pela Lei 11.161 de 2005 -, pouco dessas ações tiveram capilaridade e tempo para reverberarem em políticas culturais que pudessem sair do âmbito acadêmico e que rompessem as barreiras políticas, sociais e culturais.
Este projeto pretende se firmar como um apoio à promoção dessa integração a partir da difusão das línguas e culturas hispano-americanas, através de cursos de extensão – modalidade virtual, focados na língua e cultura através da leitura, análise e debate da literatura contemporânea de cada país que compõe o bloco – e que, depois de realizados, ficarão disponíveis neste espaço.
Deixaremos disponíveis também links de materiais relativos a cada aula, que estejam disponíveis em formato digital, sempre respeitando os direitos autorais.
Agradecimentos
Agradecemos o apoio da DERI, PROEEC e do Consulado General del Paraguay en San Pablo, especialmente nas figuras de seus representantes: Embaixador Luis Fernando Ávalos e de Carolina Ramírez Molinas.